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Do parto ao choro da criança

  • Após 30 anos, Antônia resgatou as ferramentas de trabalho e contou suas histórias. -

 Por mais de 40 anos, Antônia Barbosa ajudou as mães de São Lourenço do Oeste e região a trazer seus filhos ao mundo. Ao longo desse período, contabilizou o primeiro choro de mais de 3.7 mil crianças por suas mãos. Hoje, aos 81 anos, conta com muita tranquilidade os causos e as “histórias do tempo do arco da velha”, com ela diz.

            Tudo começou em meados de 1954. Com um ano de residência fixada na região, mais precisamente na comunidade Arroio Matão, Antônia teve a oportunidade de prestar serviço no hospital de São Lourenço. Na época, a instituição funcionava numa casa e dispunha de apenas um consultório, uma sala de cirurgia e três quartos. Em decorrência da distância de casa e da falta de estrutura no hospital, situado na Rua Coronel Bertaso com Rua Rio de Janeiro, ela passou a morar com uma amiga e a estar dia e noite à disposição do trabalho.

“Quando entrei no hospital, enfermeira era pau a toda obra. Ajudávamos os médicos, organizávamos e limpávamos o hospital. Foi ali que eu apreendi a trabalhar”, conta. Dentre tantas atividades, a maternidade foi à área que mais a agradou. Ao longo dos 17 anos que prestou serviços a unidade de saúde, especializou-se na área.

Esperando um filho, a enfermeira afastou-se temporariamente do emprego. Poucos meses depois do nascimento de Jair, passou a prestar assistência em partos caseiros. Atendendo ao pedido de familiares das gestantes, ficava de sobreaviso. “Quando a bolsa rompia, o pai, ou esposo, da mulher vinha me chamar. Não tinha hora. Às vezes vinham altas horas da madrugada e eu ia atender”, lembra.

Para facilitar, o kit de trabalho estava sempre a pronto serviço. Antônia revela que sempre teve duas preocupações, uma era manter o material esterilizado e a outra era quanto à higienização da mãe e do bebê. “Aprendi a esterilizar o material em casa e sempre tive o cuidado de ferver bem as tesouras e alicates. Outra preocupação que sempre tive era com a placenta, pois se ficasse um fiozinho de nada corria risco de dar uma hemorragia das brabas”, explica.

Decorridos oito anos na rotina de parteira, Antônia resolveu voltar a vestir o jaleco branco e tirar expediente em hospital. Não podia ser diferente, optou por trabalhar novamente na maternidade. Setor em que trabalhou até se aposentar.

Atualmente, a enfermeira passa o dia cuidando da casa e dos familiares. Ao ser questionado sobre a profissão em que trabalhou por décadas, Antônia expressa, numa fala mansa, o orgulho de ter se perdido na contabilidade de quantas crianças trouxe ao mundo. “Nos oito anos que fiz partos, até fiz umas anotações de quantas crianças eu ajudei a nascer, mas quando passou das 3.700 parei de contar. Achei que era perda de tempo”, conta.

            As noites gélidas, as correrias nas madrugadas e pelos longos trajetos para atender as gestantes em trabalho de parto ficaram na história. Ela frisa que nas lembranças procura guardar apenas as coisas boas, como o choro das crianças após a primeira respirada e as lagrimas das mães ao ter os filhos nos braços.

            Em toda a vida, Antônia foi saudada pelo empenho e zelo que dedicou à profissão. De acordo com ela, muitas que possas a cumprimentam e a procuram para agradecer pelo trabalho realizado. 

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