Cooperativismo de crédito
-
Abreu acredita que o cooperativismo de crédito se expandirá pelos próximos 15 anos. -
Nos últimos anos, o cooperativismo de crédito no Brasil apresentou índices superiores ao crescimento da média nacional e destacou-se no cenário econômico. Para o diretor presidente do Bancoob, Marco Aurélio B. de Almada Abreu, este é o fruto da fase de crescimento das cooperativas de crédito e da confiança na relação do associado com a instituição financeira. Com este chão fértil, Abreu aposta que o crescimento do cooperativismo perdurará cerca de 15 anos.
Destaque Regional – Nos últimos anos, o cooperativismo cresceu significativamente no Brasil. Ao que você atribui esse crescimento?
Marco Abreu – Esse crescimento se justifica por alguns fatores que se convergiram. Um deles é que o Brasil está se modernizando. Ao se modernizar, diversos elementos que são necessários evoluíram, dentre eles pode-se destacar à educação e o intercambio com outras economias. Nesse momento, o brasileiro observa muito que está acontecendo lá fora, principalmente como a economia do primeiro mundo se desenvolve, e quer copiar estes modelos. O cooperativismo está dentro deste contexto, onde cresce o cooperativismo a medida que o Brasil se entrelaça com outras economias. O segundo aspecto é que nós passamos por um processo de regularização do segmento por parte das autoridades, o que permitiu que as cooperativas se tornassem de livre admissão de associados. Isso significa que qualquer pessoa pode se associar às cooperativas de créditos. Estes dois fatores juntos possibilitaram este desenvolvimento.
DR – Pode-se dizer que foram estes os fatores que fizeram o cooperativismo brasileiro sobreviver à crise econômica mundial ocorrida nos últimos tempos?
Abreu – O cooperativismo brasileiro sobreviveu com mais garra porque a crise internacional é decorrência de alguns fatores. Primeiro, surgiu algumas operação financeiras, chamadas Subprimes, que nada mais eram do que títulos hipotecários americanos que foram passando de mão em mão e chegou a um ponto em que ninguém sabia direito quem devia e de quem era aquele título. Isso gerou um problema, pois muitos bancos tinham muitos desses títulos e quando perceberam que estes títulos não tinham valor tiveram que provisionar esse valor. Como as cooperativas não fazem transações sem ser com seus cooperados, não tinha estes títulos. Então, isso já faz com que as cooperativas fiquem um pouco fora deste contexto. Segundo, como os bancos não declaram com muita precisão os problemas que têm, um banco olhava para o outro desconfiado e ai houve o que a gente chama de empossamento de liquidez. Ou seja, o dinheiro que sobra num banco e que é passado para outro emprestar, e vice-versa, parou, pois os bancos achavam que os outros poderiam quebrar. Como as cooperativas se conhecem mutuamente, o dinheiro fluiu normalmente entre elas. O terceiro aspecto é o seguinte: como os bancos estavam com problemas passaram a não emprestar mais dinheiro, com isso formulou-se cenários de que à inflação ia subir, o PIB iria cair e que tudo de ruim aconteceria. Como as cooperativas são comprometidas com os cooperados e estes precisam, elas emprestam. Depois disso um cooperado vai e fala para um amigo “se você não conseguiu tirar dinheiro do seu banco, vem pra cooperativa que ela ta emprestando ainda e ela não fechou a carteira” e ai a cooperativa cresce. Com este cenário, o cooperativismo cresce. Cresce no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha e outros países. De 2008 pra cá, os bancos tradicionais diminuíram e o cooperativismo cresceu no mundo interiro, inclusive no Brasil.
DR – Antigamente os brasileiros iam ao exterior para estudar o cooperativismo. Com os crescimentos apresentados e o enfrentamento a crise econômica, o cooperativismo brasileiro tornou-se um modelo a ser seguido. Como tem sido este processo?
Abreu – Temos recebido muitas comitivas internacionais para conhecer o que fizemos aqui. Nós, dirigentes do cooperativismo brasileiro, temos sido muito convidados para fazer exposições do modelo cooperativo trabalhado aqui para fora do país. O sucesso do cooperativismo brasileiro já pode ser medido e atestado, com isso nos tornamos um modelo internacional.
DR – A região Sul tem índices cooperativistas superiores aos registrados em outras regiões do Brasil, porque isso ocorre?
Abreu – O índice de desenvolvimento do cooperativismo, aqui no Sul, é melhor porque o cooperativismo começou nesta região. As cooperativas daqui são as mais antigas. Segundo, a colonização do Sul foi feita por alemães, italianos e outras etnias de origem germânica da Europa desenvolvida, os quais trouxeram a ideia de que cooperativismo era bom. Os latinos e hispânicos que desenvolveram outras regiões não trouxeram consigo esta cultura. A colonização é algo que ajudou o cooperativismo aqui, isso não se pode negar. Agora, no Sudeste o cooperativismo também se desenvolveu bem. Quando se fala o porque o percentual de participação do mercado é maior do Sul do que no Sudeste, é porque as grandes empresas estão lá no Sudoeste. Quando se pega o tamanho do mercado do Sudeste, 40% são entidades que não tem contas em cooperativas. Quando se tira estas grandes empresas da conta, o percentual das cooperativas do Sudoeste é semelhante ao percentual das cooperativas aqui do Sul. Já no Centro-oeste o percentual está passando do Sul. Por exemplo, o Mato Grosso tem mais participação de mercado do que no Rio Grande do Sul. O estado com maior participação do cooperativismo de crédito na economia local está em Rondônia, onde o cooperativismo tem mais de 15% do mercado. Isso porque não tem grandes empresas lá e a economia é formulada por empreendedores rurais médios. Agora, o cooperativismo nasceu aqui, aqui ele é forte, o povo sabe fazer o cooperativismo e Santa Catarina manda muito bem no cooperativismo.
DR – Qual é a sua avaliação de como se comportará o mercado cooperativista nos próximos anos?
Abreu – Estamos num momento de consolidação e crescimento acima da média do mercado. Avalio que nos próximos 15 anos nós continuaremos crescendo acima da média do mercado. Porque as bases que construímos e pelo tamanho que é o Brasil, temos uma projeção de expansão que deve perdurar pelos próximos 15 anos.
Deixe um comentário