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GANDHI ? SUA FORÇA E SUAS LIMITAÇÕES

Neste domingo, 29 de janeiro, transcorre o 64º aniversário da morte de uma das mais importantes e fascinantes personalidades do século XX: Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido por Mahatma Gandhi. Ele foi assassinado a tiros por um radical hindu que o considerava um traidor por fazer concessões ao Paquistão.
Idealizador e fundador do moderno Estado indiano, ele conseguiu por fim à dominação britânica, que já durava quase três séculos, utilizando, como meio de revolução, o que chamava de Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto).
De acordo com a complexa teologia hindu, há um único Deus, que se apresenta sob três formas: Brahma, o Criador; Shiva, o Destruidor e Vishnu, o Equilibrador. Quando o caos ameaça a humanidade, Vishnu toma a forma humana para recompor a ordem. Para seus contemporâneos, Gandhi era a encarnação da divindade, sendo, portanto, chamado de Mahatma (do sânscrito "Mahatma": "A Grande Alma").
Gandhi devotou a sua vida à causa da Independência da Índia e a encaminhou política e religiosamente em perfeita harmonia com a Tradição de seu povo.
Como líder político e espiritual da Índia, ele soube utilizar-se engenhosamente de toda a tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalado pela dominação daqueles que se consideravam “superiores” e por isso dominavam. Este sempre foi o discurso do dominador: uma pretensa “superioridade”, que, ao fim e ao cabo, demonstra-se circunscrever ao campo da força e da belicosidade. Gandhi centra sua luta em provar a superioridade moral dos hindus sobre seus dominadores britânicos, reavivando na mente de seus conterrâneos dois ensinamentos tão antigos quanto o hinduísmo: a não- violência e a santidade da vida.
Encaminhar o processo político da independência da Índia a partir de um resgate profundo do que de mais sincero, bonito e duradouro existia na tradição e na alma de seu povo, é uma das maiores lições que nos deixou o Mahatma Gandhi.
Pode-se dizer, não sem razão, que a sua vitória só foi possível por ter como contendor um país democrático e exposto à liberdade de imprensa e opinião. Do mesmo modo que Mandela e Luther King, que puderam mobilizar as consciências humanitárias de todo o mundo e, igualmente, ver vitoriosas as suas bandeiras.
Em 1938, Gandhi exortou os judeus a defender seus direitos contra os nazistas e, se necessário, morrerem como mártires. Também propugnou que os ingleses utilizassem o método da não-violência contra as investidas de Hitler. Não conheço nenhuma declaração sua contra o sofrimento nos Gulags soviéticos, mas imagino que sua sugestão não seria diferente.
Apesar de sua vida merecer toda a reverência e consideração, apesar de tê-lo como um exemplo de luta pelos direitos, não posso deixar de questionar a eficácia de seus métodos contra verdadeiras tiranias, como a nazista, a comunista e a fascista. Nestas, a primeira coisa que se faz, tão logo atingido o poder, é eliminar, de forma fulminante, todos os inimigos, sejam eles armados com fuzis, com a voz ou com uma simples caneta.
O caso do Dalai Lama e do seu Tibet é um bom exemplo. Não conheço qualquer analista da cena internacional que preveja a capitulação da China diante das orações e meditações dos monges tibetanos e seu líder.
Gandhi nunca recebeu o prêmio Nobel da Paz, apesar de ter sido indicado cinco vezes entre 1937 e 1948. No entanto, serviu de inspiração para quase todos os ganhadores posteriores a ele, como Martin Luther King e Nelson Mandela. O erro foi reconhecido décadas depois pelo comitê organizador do Nobel. Quando Tenzin Gyatso, o Dalai Lama, recebeu seu prêmio, em 1989, o presidente do comitê disse que ele era "em parte, um tributo à memória de Mahatma Gandhi".
 

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