*Sérgio Coutinho - Fundador e Co-CEO Zasso Group
Desde a revolução industrial, século XVIII, os humanos se tornaram os únicos seres vivos que sistematicamente usam fluxos energéticos alheios ao próprio corpo, através do poder de seu intelecto e de ferramentas por ele criadas: de cavalos a usinas nucleares. Essa energia é a moeda universal, sine qua non para a vida, que em sua esmagadora maioria depende da conversão fotossintética da energia solar em biomassa. Por sua vez, a alimentação humana depende desta biomassa, e a agricultura é o controle da sua geração para garantir alimento, insumos industriais e energia disponível para ainda outros usos - da agricultura dependemos todos.
Thomas Robert Malthus, economista inglês, elaborou em 1798 a teoria de que a oferta de alimentos seria superada pelo crescimento populacional e que o resultado seria, inexoravelmente, fome e miséria. De 1800 a 2020 passamos de 1 bilhão de indivíduos para quase 8 bilhões e, em grande parte do mundo, a obesidade é um problema maior do que a fome. Não devemos o relativo sucesso na segurança alimentar mundial a um clima melhor, nem ao desmatamento de terras férteis, e ainda menos à distribuição equânime de terras entre produtores. Devemos esse relativo sucesso ao empreendedorismo dos agricultores, das indústrias de insumos e de equipamentos agrícolas e, principalmente, ao desenvolvimento tecnológico por eles promovido.
Segundo o cientista e analista político tcheco-canadense, Vaclav Smil, eram necessários até dez hectares para alimentar uma única pessoa até a primeira adoção do processo agrícola, a partir do qual um hectare passou a alimentar até dez pessoas, garantindo um acréscimo na densidade de energia disponível por hectare à alimentação de pelo menos uma ordem de magnitude. Após essa adoção, a densidade energética do hectare agrícola continuou crescendo exponencialmente, o que pode ser exemplificado pelo crescimento da produção de trigo de 0.5 ton/ha no ano 1.000, para ~1-1.5 ton/ha em 1.800, e até 17.3 ton/ha em 2.020 (novo recorde).
De lá para cá, a adoção de novas técnicas e tecnologias nos permitiu migrar para novas tecnologias. Do trabalho braçal para animais de carga, e de animais de carga para motores. De trabalho manual para administrar a fazenda, e de administrar para o manejo de precisão, dando à cada hectare, metro e até planta individual aquilo que ela precisa. De rituais tribais à esterco, e de esterco à fertilizantes precisamente formulados seguindo análises dinâmicas georreferenciadas de solo. Da sorte para a escolha dos melhores exemplares, e da escolha para a engenharia genética. Por fim, migramos da enxada para agroquímicos, sendo o principal deles o herbicida.
Desta maneira, a maior parte das tecnologias empregadas passou por distintas gerações e hoje migra gradativamente para a precisa otimização da sua aplicação, através da digitalização do campo, da sensorização georreferenciada, da aplicação de taxas variáveis, entre outras. O herbicida, apesar de se beneficiar dessas otimizações, anda na contramão das demais tecnologias, não apresentando significativas evoluções tecnológicas desde a patente do Glifosato.
A sua eficácia se reduziu gradativamente durante os últimos trinta anos por causa do aparecimento e rápida expansão da população de diversas espécies plantas que, através de um processo evolutivo de seleção natural contra estes químicos, desenvolveram resistência. Existem atualmente cerca de 500 casos de espécies com algum grau de resistência a herbicidas, e casos de resistência múltipla aonde uma única espécie é resistente a até 6 princípios ativos diferentes. A conclusão é clara: precisamos de mais um salto tecnológico que ofereça uma alternativa a estes agroquímicos que seja socialmente responsável, ambientalmente sustentável, economicamente viável e, principalmente, operacionalmente factível.
Conceitualmente, a solução ideal para problemas como este é o emprego de um método físico, pois ele é inerentemente livre de químicos nocivos à saúde e ao meio ambiente e deve ter a maior eficiência energética teórica possível. Dentre eles existem métodos térmicos (p.e. vapor e fogo), luminoso (p.e. lasers), eletromagnéticos (p.e. micro-ondas) e elétricos. Todos, à exceção do elétrico, são limitados no controle do sistema radicular, pois o solo funciona como barreira cuja transposição tem alto custo energético inerente, além de serem de difícil controle, pois uma vez empregada energia suficiente para controlar as raízes se esteriliza o solo como um todo, incluindo as benéficas macro e micro biota.
Todavia, os métodos elétricos são de extrema eficiência energética, uma vez que podem ser empregados para que se use energia suficiente apenas para interferir com o xilema e floema (sistemas vasculares das plantas por onde passa a seiva), que são mais eletricamente condutores que o solo, garantindo que a energia dispendida de fato no solo seja mínima, não afetando outros seres vivos que não sejam ou estejam diretamente conectados à estas plantas, e minimizando desperdícios energéticos. Por essa e outras a energia agrícola é essencial.
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