O vírus da ambição
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Arquivo DR - Frei Luizinho Marafon - Pároco da Igreja São Lourenço Mártir e Nossa Senhora Aparecida
* Frei Luizinho Marafon - Pároco da Igreja São Lourenço Mártir e Nossa Senhora Aparecida
Criamos um mundo que promete prazer aos humanos: a TV, o cinema, os esportes, diversões, jogos eletrônicos, o computador, a internet. Conhecido pelo conceito de “modernidade liquida”, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, morreu aos 91 anos, afirmava: “em uma vida moderna líquida não há laços permanentes, e qualquer coisa que seguramos por um tempo, deve ser amarrada vagamente, para que os laços possam ser desatados novamente, tão rápido e tão facilmente quanto possível, quando as circunstâncias mudarem”. Observador dos movimentos de interação social digital, Bauman deixava claro, o que pensava sobre a influência das redes sociais: a) “As redes sociais não ensinam a dialogar, porque é muito fácil evitar a controvérsia.”
b) Bauman disse que as plataformas de interação social reprimem as habilidades sociais. “É tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias neste ambiente. c) O caráter efêmero das plataformas sociais: “um viciado em Facebook me confessou que se gabava de fazer 500 amigos em um dia, eu disse que tinha 86 anos e nunca cheguei a ter 500 amigos” d) As interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças. “Não parece haver esforço na parte virtual de nossas vidas”. Para mudar o mundo, os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real. e) Ao jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, Bauman afirmou que a velocidade e a quantidade de informação disponível,l é mil vezes maior que o cérebro humano pode processar. “Quando busco algo no Google aparecem bilhões de respostas sobre algo.”
Lazer sofisticado
A indústria do lazer nunca foi tão sofisticada. No entanto o ser humano nunca mostrou tanta ansiedade, irritabilidade e falta de concentração. Este é um sinal claro que, na pós-modernidade, o ser humano se preocupa com as coisas e não com ele mesmo. Dá muito valor ao ter e vai fabricando stress e ansiedade. A maior fonte de entretenimento humano é o mundo das ideias. Produzimos milhares e milhares de pensamentos diários. Mesmo querendo, o ser humano não consegue parar de pensar. Tentar parar de pensar já é um pensamento. Como não podemos parar de pensar, precisamos gerenciar os pensamentos. Gerenciar os pensamentos é gerenciar a liberdade de pensar, é ser livre para pensar, mas nunca escravo da liberdade. É ótimo ser livre, mas não dê liberdade exagerada aos seus pensamentos, caso contrário, será vítima da ansiedade. É possível ter uma excelente conta bancária, mas um saldo negativo de tranquilidade. É possível dirigir uma grande empresa, mas não ter o mínimo controle sobre os pensamentos negativos fabricados no cotidiano.
O vírus da ambição
Com frequência somos contagiados pelo vírus da ambição. Mandar, ter, dominar as pessoas, ser reverenciados, ditar leis. Essas aspirações parecem estar invadindo nossas famílias, pessoas e comunidades. É raro ver alguém que não anseie o primeiro lugar. A lógica da ambição, do poder, da dominação é mãe de todas as discórdias e desuniões, das guerras e conflitos, que infernizam nossas vidas e prejudicam nossa caminhada fraterna.
O ensinamento de Jesus
Jesus ensinou a lógica do serviço, da gratuidade, do amor. Os discípulos demoraram para entender o projeto de Jesus. Discutiam entre eles quem seria o “maior”, pois pensavam na dominação, no poder, na lógica do “mundo”. Aos poucos eles conhecem o “coração” de Jesus de Nazaré e compreendem a lógica do amor, da doação e da entrega. Desfazem entre eles a competição, compreendem o projeto do Mestre e começam a ver as pessoas e o mundo de maneira diferente. Os discípulos, aos poucos, foram combatendo o vírus da ambição, da dominação e dos interesses escusos. Perceberam que Jesus, apesar de passar pelas mais amargas situações de sofrimento, era uma pessoa alegre que irradiava vida e tranquilidade. Tinha uma habilidade ímpar para gerenciar seus pensamentos e trabalhar seu interior. Sua motivação para viver e fazer o bem era surpreendente. Conseguia ver as flores da primavera, mesmo passando por um tenebroso inverno. Jesus nos mostrou com sua conduta, que a vida é o maior espetáculo do mundo, presente do Autor da criação. Ele nos convida a parar para sermos pequenos aprendizes. Convida-nos a retomar alguns caminhos. Convoca-nos a “apagar” em nós o vírus da ambição e recomeçar, tantas vezes quantas forem necessárias. Não espere que os outros mudem com você. Mude você com eles. Treine sua emoção, treine seu coração. Aperfeiçoe sua maneira de ser e de agir. Seu maior compromisso é viver feliz.
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