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Da carne para o pó, eis o construtor

Medo. Tristeza. Perda. E Fim. As palavras carregam uma conotação pesada e pessimista. É assim que pessoas observam o local no qual são enterrados os entes queridos. O medo surge das fragilidades e da crueldade humana. A tristeza é alimentada das dores do coração. A perda é sinal que há os que ficam. E o fim alimenta a pergunta universal: para onde vamos?

Neste dia 2 de novembro, o Brasil para. As pessoas relembram os familiares e amigos que partiram. Permeia os túmulos e os jazigos, o aroma das flores e o cheiro da fumaça das velas, quem trarão a lembrança de momentos inesquecíveis.

No meio desse caminho, há indivíduos que ainda não sofreram a perda. Não sentiram a ruptura drástica da ausência inesperada de uma amizade ou de um familiar.

Porém, em meio a esse momento, é necessário se lembrar de um personagem que faz a diferença. Com criatividade e dedicação constrói o ambiente do fim terreno.

Com essa atividade, o pedreiro Celso Dariva, 56 anos, ganha a vida. São 40 anos de profissão a qual aprendeu dos antigos pedreiros de Quilombo. Nesse período, perdeu as contas dos túmulos e jazigos que ajudou a construir. Quilombense de naturalidade, relembra inúmeras histórias tristes em que o drama da partida protagonizava a história e alimentava as rodas de conversa, com curiosidade e especulação, sem entender o verdadeiro significado da morte.

Para o construtor, o trabalho é normal e não tem restrições. “Ganho a vida com a construção civil, construir o local do sepultamento é um ramo a mais que aprendi a fazer”, salienta. Ele diz que já fez túmulos para amigos e não cobrou, pela consideração à família.

Com o sentimento de solidariedade, o pedreiro afirma que tem alguns túmulos feitos para doar a famílias carentes, sem condições financeiras para pagar, quando perderem um ente.

 

Preconceitos

 

O pedreiro trabalha nessa profissão, desde os 14 anos. Aprendeu o significado do preconceito na adolescência, entre um enterro e outro. “Geralmente, os pobres e negros eram enterrados em vala, na parte inferior, mais distante da porta de entrada”, recorda. Segundo Dariva, os mortos de classe média e alta tinham um tratamento diferenciado, porque eram enterrados em um túmulo.

 

Jazigo, uma iniciativa recente

 

Dariva comenta que, entre as décadas de 60 e 70, construíam-se somente túmulos. “Aqui em Quilombo o jazigo é recente, pois começamos a fazer no final dos anos 80, quando algumas famílias pediram”, explica. No entanto, foi a partir de 2000 que se intensificou a construção.

Atualmente, construir um jazigo custa em média R$ 6 mil. O pedreiro relata que leva 15 dias de trabalho para deixar pronto, com a ajuda de mais um trabalhador. “Geralmente as famílias contratam para fazer com quatro gavetas, incluso o material”,ressalta.

 

Coragem

 

Os anos de profissão deram fibra, para o corajoso pedreiro fazer a exumação de corpos sepultados há mais de cinco anos.“Com a autorização da família, quebramos o túmulo, tiramos os restos de caixão e pegamos os ossos para colocar em uma bolsa de plástico”, explica.

Ao desempenhar esse trabalho, Dariva se protege com luvas e máscaras, para evitar o contato direto com o cadáver e o risco de contagio de doenças.

De acordo com o pedreiro, geralmente, o translado dos restos mortais é para jazigos, com espaço para mais corpos. Embora, ele não tenha medo da profissão, há situações nas quais o sentimento de emoção faz o coração bater mais rápido.

Dariva destaca que um dos momentos mais tristes da vida, foi no ano de 2000, ao ajudar na exumação do corpo da mãe Maria Lira Dariva. “Aquele episódio fez com retornasse ao passado e me lembrasse do quanto a minha mãe era importante”,recorda.

 

O ambiente da morte

 

O desespero dos familiares, naquele momento do fechamento, torna a atividade do pedreiro árdua. Conforme Dariva, as pessoas da família, inconformadas com a perda, se aproximam do caixão e do túmulo/jazigo, com flores, velas, lamentam a morte e choram. “É um momento de dor, não podemos desrespeitar, mas temos que fazer nosso trabalho, a gente só aprende a lidar com tempo”, relata.

Com experiência, Dariva diz que as famílias estão se prevenindo e construindo jazigos. Ele comenta que a demanda por esse trabalho, aumenta nos três últimos meses do ano. “Raramente é feito algum túmulo, o espaço ficou pequeno, por isso, a necessidade de ser fazer jazigos”, finaliza.

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