Mantega descarta medidas para segurar alta do dólar
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A moeda americana fechou o dia cotada em R$ 1,85 para venda - maior valor desde 8 de junho de 2010.
"A alta do dólar no Brasil e em outros países reflete aversão ao risco que ocorre por causa da demora na resolução dos problemas europeus", disse o ministro a jornalistas brasileiros ao desembarcar em Washington.
Segundo o ministro, se houver apenas uma "piora relativa" na crise, a tendência é de uma movimentação gradual da moeda, "perfeitamente assimilada pela economia".
"É claro que, se houver uma forte desvalorização, pode preocupar, mais pelos efeitos que pode ter com alguns devedores brasileiros", disse.
"Mas para que isso aconteça é preciso um grande agravamento da crise", disse. "Se a coisa ficar feia, então nós vamos ter que repensar tudo e ver o que precisa ser feito."
Inflação
De acordo com o ministro, a valorização do dólar indica uma piora da crise internacional, que pode levar à queda de preços de commodities.
"Se de fato houver um agravamento da crise, significa, as variáveis vão se modificar. Se caem os preços de commodities então não há pressão inflacionária", afirmou.
A alta da inflação é uma preocupação do governo brasileiro, que vem tentando trazer a taxa de volta ao centro da meta, de 4,5%, até o próximo ano. Neste ano, há o risco de que a taxa de inflação feche acima do teto da meta, de 6,5%.
"Então uma coisa compensa a outra. Se por um lado a valorização do dólar pode trazer alguma pressão inflacionária no Brasil, por outro lado, a piora da crise, com a deterioração dos preços das commodities, traz uma queda", disse Mantega.
"A alta do dólar no Brasil e em outros países reflete aversão ao risco que ocorre por causa da demora na resolução dos problemas europeus"
Guido Mantega, ministro da Fazenda
Mantega observou ainda que a menor valorização do real traz alguns benefícios para a produção industrial e os exportadores brasileiros.
A grande valorização do real frente ao dólar verificada nos últimos meses é motivo de reclamações do setor no Brasil, já que acaba prejudicando a competitividade das exportações no mercado internacional.
Ajuda à Grécia
Mantega chegou a Washington para participar de um encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 (grupo que reúne as principais economias do mundo, do qual o Brasil faz parte) e da reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internaiconal) e do Banco Mundial, nas quais a crise grega será um dos temas.
"O ponto nevrálgico é a questão da Grécia. Se a Grécia conseguir se equacionar, e as notícias de hoje são de que caminha nesta direção, não deve haver um efeito de contágio, outros países não serão envolvidos", disse Mantega.
A Grécia enfrenta uma crise de dívida e déficit que já provocou uma onda de desconfiança a respeito de outros mercados europeus.
Em maio, União Europeia e FMI fecharam um pacote de ajuda no valor de 110 bilhões de euros (cerca de R$ 276,7 bilhões) ao país. Outro acordo, fechado em julho, prevê o repasse adicional de 109 bilhões de euros (R$ 274 bilhões), mas ainda depende de aprovação de vários membros do bloco europeu.
Os repasses estão condicionados a que o governo grego avance nas medidas para equilibrar suas contas. Caso a avaliação seja de que não houve avanços, o país pode não receber o dinheiro e corre o risco de dar um calote em suas dívidas, o que teria impactos negativos nos demais mercados.
Nesta quinta-feira, Mantega se reúne com os ministros dos outros países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para discutir uma possível ajuda do bloco aos países da zona do euro.
Uma das ideias poderá ser a compra de títulos da dívida de países europeus, para ajudar a fortalecer esses papeis, em um momento em que a crise de dívida e déficit em diversas economias da zona do euro vem se agravando.
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