Produtores descartam vacas leiteiras por falta de alimentos e, sem água, reduzem cultivo de grãos e paralisam produção de aves e suínos
Com apenas metade das chuvas previstas para o ano, os prejuízos causados pela estiagem em Santa Catarina se agravam a cada semana. O déficit hídrico no Estado, de acordo com dados da Epagri/Ciram, ultrapassa os 900mm nas principais regiões produtoras de proteína animal: Oeste, Extremo Oeste e Meio Oeste. A seca já é considerada a pior dos últimos 15 anos e está derrubando a produção agropecuária catarinense.
O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), Enori Barbieri, afirma que a situação vivida pelos produtores catarinenses é histórica e dramática. A pouca chuva que caiu nas últimas semanas até ajudou na germinação da soja, cujo plantio está sendo finalizado, porém, foi insuficiente para assegurar a produção de milho e de pastagens para alimentação dos animais.
"Eu diria que o setor mais atingido é o leiteiro. Está tendo um descarte de vacas por falta de alimentos, o que reduz a produção e rebaixa o Estado para a quinta colocação nacional", observa Barbieri ao detalhar o drama vivido no campo.
"Santa Catarina era o quarto maior produtor nacional até novembro do ano passado, quando os produtores plantaram o milho para silagem. Foram 220 mil hectares, porém houve queda de 40% na produção, em função da falta de chuvas no final do ano. Após isso, tivemos falta de chuvas para as pastagens e quando a gente viu que o preço do leite subiu e o produtor poderia aumentar a produção, ele foi impedido de dar ração para as vacas pelos altos preços dos insumos. A saca de milho que estava R$ 35,00 em janeiro no Estado, passou para R$ 87 e a tonelada de farelo de soja que estava R$ 900 em janeiro, já está R$ 2.800. Sem alimentos para as vacas, os produtores ficaram sem saída, estão selecionando os melhores animais e descartando os mais velhos", explica.
Grãos, aves e suínos
Da mesma forma, o aumento dos custos de produção e a seca histórica também impactaram na produção de grãos, aves e suínos. A lavoura de milho, cujo plantio foi finalizado, aponta perdas de mais de 700 milhões de toneladas na safra. O milho silagem acumula perda média de -6,75%, resultando numa produção esperada de 8,8 milhões de toneladas. Na região Extremo Oeste a perda média é de -13,76%, enquanto no Oeste fica em -7,24%. Alguns municípios destas regiões já somam perdas na produção superiores a 60%.
Para o milho grão da primeira safra, até o momento, a perda média esperada para o Estado é de -4,12%. O maior impacto está no Extremo Oeste, onde a quebra de produção média é de -19,07%. No Oeste a perda está em -9,2%. Neste cenário, a produção esperada é de 2,8 milhões de toneladas.
"As lavouras de grãos conseguiram sobreviver no ano passado, proporcionando rentabilidade aos produtores. Neste ano, as perdas serão grandes, especialmente no milho e pastagens. Infelizmente as previsões não são nada boas. A situação em Santa Catarina é dramática, nunca vista antes", avalia o dirigente.
De acordo com a FAESC, a escassez hídrica nas pequenas propriedades do interior está provocando sérios problemas de abastecimento. Só no Oeste, em uma das agroindústrias, já são 110 aviários parados por falta de água para as criações.
"Não há estrutura para assegurar o abastecimento. A situação é ainda mais preocupante porque as previsões do La Niña se confirmaram e indicam chuvas abaixo da média até janeiro. Também temos a triste previsão do site da NASA, de que a América do Sul terá uma das piores secas dos últimos 20 anos, com epicentro no Oeste catarinense", sublinha Barbieri.
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