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LIVROS À MÃO CHEIA

Neste sábado, 29 de outubro, nós, brasileiros, comemoramos o Dia Nacional do Livro. A razão da escolha desta data é simples: foi nesse dia, em 1810, que a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil, tendo, então, sido fundada a Biblioteca Nacional.

Nestes assuntos sempre há muita controvérsia, mas, aparentemente, os mais antigos textos impressos conhecidos foram esparsas orações budistas escritas no Japão por volta do ano 770. Desde o século II, a China já sabia fabricar papel, tinta e imprimir usando mármore entalhado, tendo sido lá que apareceu o primeiro livro como o conhecemos, no ano de 868.

Na Idade Média, livros feitos à mão eram produzidos por monges que usavam tinta e bico de pena para copiar os textos religiosos em latim. Um pequeno livro levava meses para ficar pronto e os monges trabalhavam em um local chamado "Scriptorium".

Foi com o ourives Gutenberg que surgiu a imprensa em série, um daqueles momentos em que a humanidade dá um salto. A sua invenção marcou a passagem do Mundo Medieval para a Idade Moderna: a era da ampla divulgação do conhecimento.

O primeiro livro impresso em série foi a "Bíblia de Gutenberg". A obra tinha 642 páginas e foram impressos apenas 200 exemplares, dos quais existem apenas 48 espalhados pelo mundo hoje em dia.

O Brasil passou a editar livros a partir de 1808, quando D. João VI fundou a Imprensa Régia e o primeiro livro editado em nosso país foi "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga.

Aos pais que se sentem impotentes frente à febre da internet e acreditam que seus filhos, vítimas da modernidade, estão sendo afastados dos livros, reproduzo parte de um interessante texto da jornalista Cora Rónai.

Houve época em que as histórias em quadrinhos eram olhadas com desconfiança por pais e educadores. Aquelas revistinhas atraentes, com suas imagens e sua linguagem coloquial, afastariam as crianças dos livros. Os anos se passaram, as crianças que liam quadrinhos cresceram, tiveram filhos e quase morreram de preocupação com a sua garotada, que, viciada nos seriados dos cinemas, certamente se afastaria dos livros. Uma geração depois, o ciclo se repetiu. Os meninos das matinês cresceram e passaram por maus momentos ao ver os filhos grudados na televisão, aquela praga que, sem dúvida, os afastaria dos livros. Hoje, a geração da TV, que cresceu e se multiplicou, anda muito angustiada. As crianças não saem da frente do computador e passam o dia inteiro na internet. Que, naturalmente, vai afastá-las dos livros...

A moral dessa ciranda de pais aflitos é simples: cada época tem os seus fantasmas, assim como cada geração tem a sua forma peculiar de comunicação.

O grande desafio, em qualquer época, nunca foi afastar as crianças dessas outras tentações, mas, sim, aproximá-las dos livros. E só transmite amor aos livros quem os ama. Os maiores inimigos da leitura não são a televisão, os games ou a internet, mas professores que usam a literatura como instrumento de tortura e pais que não dão exemplo em casa.

Um dos fenômenos mais curiosos envolvendo internet, crianças e livros aconteceu quando foi lançado o quinto volume da série Harry Potter. Num erro de estratégia inconcebível, a editora inglesa não o distribuiu antecipadamente às suas parceiras estrangeiras para tradução. Resultado: todas as crianças do mundo que não liam inglês foram alijadas da festa. E foi aí que aconteceu um lindo milagre na internet, daqueles que renovam a nossa esperança na humanidade. Crianças e jovens de diversos países criaram, simultânea e espontaneamente, verdadeiros grupos de trabalho para traduzir o livro e fazê-lo chegar aos amigos sem domínio de inglês. Em menos de 15 dias, o livro já estava disponível na rede em uma dúzia de idiomas, entre eles português.

Aos pais preocupados, deixo de presente a reflexão de Cora Rónai. Aos despreocupados, lembro o que disse Bill Gates: "É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros".

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