Bullying é tema de mais um seminário na Assembleia Legislativa
Teve início na noite desta quarta-feira (30) o Seminário Estadual: bullying – escola, família, sociedade; no auditório Antonieta de Barros da Assembleia Legislativa, promovido pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.
Com objetivo de combater este tipo de violência, foram apresentados os resultados do Programa de Enfrentamento ao Bullying Escolar e Educação para a Cultura da Paz, realizado no Estado desde 2008, pelo presidente da Escola, deputado Joares Ponticelli (PP).
“Apresentar um Projeto de Lei e fazê-lo virar Lei não é tão difícil assim, o difícil é sua implementação, fazer com que a intenção vire realidade. Fazer um Projeto de Lei que combatesse a prática do bullying foi nosso principal intento”, declarou o parlamentar, comentando a vitória da aprovação do referido projeto. “A lei vem produzindo resultados e com os debates e ações pró-ativas é possível identificar o problema”.
Conforme Ponticelli, os promotores de justiça do Estado estão cada vez mais interessados em fazer cumprir esta Lei, pois chegam às promotorias inúmeros casos sobre o tema. “Temos que nos comprometer para esse trabalho continuar. O bullying está presente em todas as escolas, sem exceção. Estou certo de que nosso programa atingiu um nível elevado de adesão e contribuiu para levar ao conhecimento da sociedade este mal que causa tanto sofrimento, e também contribuiu com sua prevenção”, concluiu.
Educação para a cultura da paz
A palestrante Cléo Fante, vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre Bullying Escolar, abriu o evento com a conferência “Bullying escolar e educação para a cultura da paz”.
Cléo, que é doutoranda em Ciências da Educação e autora de dois livros sobre o assunto, ressaltou a importância da instituição desta Lei em santa Catarina. Ela lembrou a falta de conhecimento sobre o assunto quando se começou a tratá-lo e da confusão com que hoje é abordado.
“O bullying é um problema de todos nós, cidadãos, que precisamos nos comprometer. Quando falamos sobre isso, tratamos de um tema muito complexo. Hoje as pessoas utilizam o termo bullying indiscriminadamente. Estamos falando de uma violência intencional, não de um apelido, uma brincadeira de criança, uma disputa entre adultos, outras situações de constrangimento ou desavenças políticas”.
De acordo com a pesquisadora, a escola deve estabelecer regras com toda a comunidade escolar e inseri-las em seu contexto. A escola deve ser um ambiente de brincadeiras e, em determinado momento, também o lugar de desenvolver conflitos, mas de maneira mediada. “A divergência, a indisciplina, não têm a ver com bullying, mas com a quebra de regras da escola ou sociedade”.
A ausência de limites, de respeito, e a educação permissiva fazem com que a criança não saiba se portar em um ambiente social. Cléo Fante avalia que o bullying é uma violência gratuita, cruel, e não deve ser confundida com outros tipos de desavenças ou frustrações que fazem parte da vida.
O bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho, mas é no contexto escolar onde a identificação torna-se maior. A palestrante destacou os prejuízos mais comuns às vítimas desse tipo de agressão, como a dificuldade no aprendizado, no desenvolvimento do processo de socialização e alteração na saúde mental. Os sintomas mais usuais são depressão, baixa autoestima, ansiedade e, ainda, abandono dos estudos.
A participação da família no desenvolvimento dos valores humanos e a atenção dos educadores e das secretarias de educação são maneiras de prevenir e tratar um problema que atinge, anualmente, cerca de 350 milhões de crianças e adolescentes, no mundo. Isso significa 1 milhão de vítimas deste tipo de violência por dia. No Brasil não existem diagnósticos sobre o bullying, a repetição de atitudes agressivas e intencionais adotadas na escola por um aluno ou grupo contra um ou mais colegas, causando angústia e sofrimento.
A melhor maneira de intervir é através da identificação de casos e de suas causas. “O bullying é uma prática de exclusão social, de falta de compaixão, uma ação planejada, gratuita, onde os principais alvos costumam ser pessoas mais retraídas e inseguras. Essas características acabam fazendo com que elas não peçam ajuda e em geral se sintam desamparadas, encontrando dificuldades de aceitação. São pessoas submissas e vulneráveis aos valentões da escola. Além dos traços psicológicos, as vítimas desse tipo de agressão apresentam particularidades, como problemas com obesidade, estatura, deficiência física”, ressaltou a palestrante.
Para enfrentar o bullying são necessários conhecimento, capacitação profissional e discussão do tema junto à comunidade escolar, assim como orientação às crianças, para a busca de soluções conjuntas.
Tratar a cultura da paz é, conforme a palestrante, a melhor maneira de evitar preconceitos, agressões e violência. “É necessário juntar esforços para traçar planos de como enfrentar o descompromisso dentro dos lares, de como fazer com que brote a paz, o amor e a bondade dentro de cada um de nós. Muitas crianças têm os direitos violados dentro da própria casa. Desta forma, a participação da escola é fundamental”, completou Cléo Fante.
Educadores, gestores escolares, psicólogos, assistentes sociais, conselheiros tutelares, estudantes das redes públicas e privadas, pais, médicos e autoridades reuniram-se para discutir o problema.
Lei instituída em Santa Catarina foi precursora no combate ao bullying
A Assembleia Legislativa de Santa Catarina foi uma das precursoras do combate ao bullying no Brasil com a elaboração do Projeto de Lei 447/2007, de autoria do deputado e professor Joares Ponticelli, transformado na Lei 14.651/2009, que autoriza o Poder Executivo a combater a prática nas escolas da rede pública. Na condição de presidente da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, o parlamentar também incentivou a realização de campanhas de combate ao bullying em parceria com o Ministério Público de Santa Catarina.
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