* Cleverson Siewert, CEO do Ascensus Group
Nas últimas semanas, um fenômeno curioso tomou conta das redes sociais. Diferentes vozes passaram a se unir em prol de um discurso comum e direcionado a um público bem específico: a importância dos adolescentes de 16 a 18 anos tirarem o título de eleitor para votar nas eleições de outubro.
À frente da campanha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apoiado, na vanguarda, por um tanto de artistas, influenciadores e outros famosos - inclusive, estrangeiros. A ideia é reverter uma realidade preocupante no país: o desinteresse dos jovens pela política, que se manifesta justamente pela falta de solicitação do título eleitoral. Para o TSE, esse é um grupo considerado decisivo para ajudar a definir os rumos políticos do país. São os chamados eleitores facultativos - já que, no Brasil, o voto é obrigatório apenas a partir dos 18 anos.
Estima-se que 7,7 milhões de brasileiros terão 16 ou 17 anos até o primeiro turno das eleições, segundo o IBGE. Mas, em fevereiro, menos de 10% desse total estava com o título nas mãos. É a menor marca da história. E uma realidade completamente diversa de exatos 30 anos atrás.
Em 1992, nas primeiras eleições após o retorno do regime democrático, cerca de 3,2 milhões de jovens na faixa etária entre 16 e 18 anos haviam se cadastrado para votar. Esse engajamento não era um simples acaso. O Brasil vinha de uma efervescência muito grande, após mais de duas décadas de regime ditatorial. Os jovens protestavam, desafiavam militares e até pagavam com a vida por discordar dos rumos do país.
Naquela época, o direito ao voto era algo intensamente desejado e representou uma enorme conquista que veio junto com a nova Constituição Cidadã. Pela primeira vez na história, o Brasil chamava a todos para participar dos rumos do país - até mesmo as novas gerações. Era muito mais do que uma conquista democrática. Era o caminho para alcançar transformações sociais almejadas há muito tempo.
Onde foi parar esse engajamento?
De 1992 até chegar a este momento, o país caminhou, conheceu novos governantes, fez apostas erradas, aprendeu algumas lições, repetiu (muitos) erros, andou para trás, mas também viu boa parte de seus jovens perder o entusiasmo com a política. É difícil apontar por que isso aconteceu. Mas é possível imaginar algumas razões. O panorama partidário atual, a polarização, o descrédito da política, a crença de que ela não interfere no dia a dia são alguns deles.
É curioso, se pararmos realmente para pensar. Tantos erros e acertos políticos deveriam provocar, justamente, o efeito contrário e ser um estímulo para a responsabilidade cívica - tal como aconteceu no início dos anos 1990. Os jovens de hoje são os que mais encabeçam e se inspiram pelas grandes causas que nem sempre são retratadas na política. O combate à fome e à pobreza, a geração de empregos, a preservação do meio ambiente e a redução das desigualdades sociais estão nessa lista. À frente de pautas como essas, já acompanhamos jovens como Malala Yousafzai lutando pelo direito à educação das meninas e Greta Thunberg encabeçando o debate urgente da mudança climática.
Tudo isso nos mostra o quanto os jovens não estão alheios ao que acontece ao seu redor. Eles já participam da vida política (da sua rua, do seu bairro, da cidade, do país e do mundo), mas fazem isso de outras formas e a partir de outras perspectivas. E nem sempre percebem que, sim, isso é, de fato, o fazer política. E é nosso papel ajudá-los a fazer essa conexão.
A oportunidade de alcançar uma sociedade mais diversa, inclusiva e igualitária - tão desejada por muitos - só pode ser consolidada por meio do voto consciente. E o pensamento jovem, crítico e inovador, tão comum a pessoas de pouca idade, tem força suficiente para promover grandes e profundas mudanças no futuro do Brasil.
Por isso, o país precisa tanto do voto deles.
Até aqui, o esforço do TSE tem dado resultado. Depois dos baixos índices alcançados até fevereiro, a instituição promoveu um tuitaço que, em um mês, fez a procura pelo título saltar 45% em relação ao mês anterior.
É preciso estimular a inclusão da juventude na vida democrática do país. Caso contrário, sempre vai ser difícil avançar se uma parcela da população se mantiver alheia à política. Se muito do que a gente vê por aí hoje, de corrupção e maus políticos, continuar sendo fruto da omissão do voto consciente.
A democracia pode não ser o melhor dos mundos, mas é a melhor opção que a gente tem. E ela não funciona bem sem a participação de todos. Por tudo isso, o Brasil precisa da juventude. Agora. E mais do que nunca.
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